Caçula, tem uma irmã mais velha que mora nos Estados Unidos e um irmão mais velho que é músico; Sua mãe era professora em uma escola particular e do Estado. Seu pai era militante e músico, foi exilado em Paris por alguns anos. Estudou em escola pública, sempre praticou esportes. Foi atleta pelo Banespa por anos, mas após cirurgia no joelho parou de jogar handball. Estudou Educação Física na FEFISA, fez Lato Sensu e, Dança com Educação Física. Participou de um grupo de dança por 12 anos. Em 2013 iniciou sua gestão no curso de Educação Física da USCS. Estudou também Psicologia. |
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Pergunta:
Para começar, eu queria que você falasse para a gente nome completo, local e data de nascimento, por favor.
Resposta:
Eduardo Figueira de Aguiar, nasci em 27 de fevereiro de 1962 em São Paulo Capital.
Pergunta:
Eduardo, quais são as primeiras lembranças que lhe vem à cabeça dessa primeira infância, como que foi esse início de vida?
Resposta:
Bom, eu morava em um bairro que permitia jogar bola na rua, brincar na rua, então é uma lembrança bem livre, de esporte, de amigos, de poder jogar bola, poder passear, sem ter o perigo que a gente tem hoje em dia, em que os filhos tem que ir para uma escolinha de esportes, tem que ir para uma escolinha de natação para poder fazer alguma prática, e a gente tinha isso de uma maneira natural, no campinho de esquina, no quintal dos amigos, isso que me vem a lembrança.
Pergunta:
Qual bairro?
Resposta:
Vila Olímpia, hoje um bairro nobre, cheio de prédios...
Pergunta:
Como era a Vila Olímpia?
Resposta:
Quando eu me mudei para lá era um bairro que tinha muita favela, chácaras, não tinha luz na rua, luz de terra, não tinha telefone, então era outro mundo e aí devagarzinho isso foi se transformando e hoje é um dos metros quadrados mais caros de São Paulo, uma loucura danada lá.
Pergunta:
Como era o seu núcleo familiar?
Resposta:
Pai, mãe, uma irmã mais velha e um irmão mais velho, então éramos três filhos, logo aos 17 anos minha irmã já foi embora para os Estados Unidos, acabou ficando lá e meu irmão era músico, então era mais despojado, vivia mais viajando e tal, eu era o mais familiar ali do núcleo.
Pergunta:
Como eram seus pais?
Resposta:
Meu pai era músico também, foi militante político, exilado, trabalhou na Receita Federal durante algum tempo, [pigarro] aí se separaram, ele foi para Paris porque ele foi até ameaçado aqui, teve que sair do país na época da Ditadura. Minha mãe era professora do ensino primário na época e ele fora, se separaram sempre naquela forma mais conflitiva e ela tocou o barco com os três filhos, com aluno particular e dando aula no estado, uma guerreira.
Pergunta:
O seu pai deixou o país você tinha quantos anos?
Resposta:
(...) Pouco mais de 10.
Pergunta:
Você lembra como foi esse período?
Resposta:
Eu ainda era criança, mas era uma época de bastante turbulência política com a ditadura e eu lembro da minha mãe comentar que ela recebia telefonemas dizendo que se eles não parassem com a militância ela e os filhos desapareceriam ou pagariam um preço mais caro para poder estar ali, então ele se viu forçado a não parar com a militância pois era uma questão ideológica, mas a sair do país, que foi o que colocaram, ou você sai do país ou as consequências podem ser outras, e como a gente não sabe até onde e era uma época de muita coisa ruim acontecendo, muita violência, gente sumindo, gente torturada, então ele acabou ficando alguns anos em Paris.
Pergunta:
E escola, como foi esse início na escola, como você se recorda desse começo.
Resposta:
Escola pública, na época não tinham grandes escolas particulares, então ensino público. Estudei nas escolas que minha mãe trabalhava, fui aluno dela na quarta série primária, fui o único aluno a tomar puxão de orelha físico na sala, porque fazia algumas artes, algumas coisas e também com amigos que eu tenho até hoje, então é algo que é muito legal, pois nos encontramos até hoje com os amigos do ensino médio, os amigos do bairro a gente ainda mantém contato, era uma relação que era mais pessoal, e isso nos deixou marcas que nos trazem positivamente até hoje.
Pergunta:
Fala um pouquinho mais, você me disse que era um aluno que tinhas as traquinagens...
Resposta:
Traquinagens que hoje em dia seriam totalmente (...), um aluno bonzinho [5'], mas é que a mãe não podia deixar de perder a autoridade do filho fazer graça, mas sempre fui tranquilo, nunca fui de aprontar muito não, tranquilo.
Pergunta:
Como foi o início no mercado de trabalho, como foi a evolução na escola, e o início no mercado de trabalho.
Resposta:
Eu sempre pratiquei esportes, então fazia natação, atletismo, artes marciais, meu pai era mestre em Tai Chi Chuan, essas coisas todas inspiravam, fiz Taekwondo, Judô, Tai Chi, tinha um gosto pela prática, e ai fui jogar Handebol no Banespa, fiquei atleta por alguns anos...
Pergunta:
Quantos anos você tinha nessa época?
Resposta:
Dos 15, 16, até uns 18 ou 19, quando machuquei o joelho jogando, fiz uma cirurgia bem grande, coloquei pino no joelho, e não sabia muito bem o que fazer da vida, como a maioria dos adolescentes de 17 anos que terminam o ensino médio fala: ‘ah, o que vou fazer', com uma oferta bem menor, hoje em dia você vê as pessoas, a quantidade de cursos que eles podem escolher é gigantesca, na época tínhamos menos cursos, mas eu também não sabia o que fazer, e falei: ‘bom não sei o que fazer, tem que fazer faculdade e eu gosto de praticar esportes', então fui fazer educação física numa lógica do que eu gostava, como muitos alunos vêm e se surpreendem depois, pois falam: ‘Ah eu gosto de praticar, não de ensinar', aí fui, com a cirurgia no joelho parei de jogar Handebol assim que entrei na faculdade, e tive um processo longo de recuperação, pouco mais de seis meses, na época era outra tecnologia, outros procedimentos e quando voltei para jogar, voltei com a perna ainda complicada, não me dei muito bem e surgiu uma chance na faculdade mesmo de dançar, fui para a dança aqui em São Caetano na FEC do ABC eu vim fazer um curso de pós lato sensu em dança educação física, então eu conheci um professor que é um mestre que eu tenho bastante carinho e hoje em dia não esta mais conosco, mas que marcou a carreira de muitos de nós que é o Professor Edson Claro que criou um método de dança educação física, ele juntou as duas áreas, e trabalhávamos com consciência corporal, relaxamento, com coordenação e técnicas corporais variadas, a ideia era de um grupo de dança educação, não dança como arte final, um produto final, mas via a dança a educar, então tinha tudo a ver com a parte de consciência corporal, o movimento e de trabalho da perna que foi bem legal também de fortalecimento, consciência corporal, estabilização, equilíbrio e aí acabei indo para a dança. Dancei durante 12 anos nesse mesmo grupo aqui em São Caetano foi quando eu vim para cá em 1984.
Pergunta:
Você fez a graduação onde?
Resposta:
Fiz na FEFISA em Santo André...
Pergunta:
Mas você estava na Vila Olímpia, por quê?
Resposta:
Estava na Vila Olímpia, porque você tinha algumas faculdades importantes, em São Paulo era a USP, em Santo André a FEFISA, em São Caetano a FEC do ABC, e em Mogi, tinha algumas um pouco mais longe, Santos, Sorocaba, mas já eram mais distantes. Então você tinha, tirando USP pública, FEFISA e FEC que eram as grandes e importantes da região do estado, e acabei prestando, passei aqui na FEC em São Caetano, mas passei também em Santo André, como tinha uns amigos que iam para lá, acabei indo com os amigos fazer a faculdade que era mais gostoso com a turma e tal. E aí eu terminei a faculdade, nessa época eu parei de jogar, conheci o Professor Edson Claro através de alguns cursos, e quando me formei surgiu o curso de pós-graduação na FEC do ABC com o Professor Edson Claro e vim para cá fazer, então montou-se o grupo de dança da faculdade, comecei a participar do grupo e depois de algum tempo acabei assumindo com a coordenação do grupo e de 1984 para cá, paulista, paulistano, vivo em São Caetano 18 horas por dia, sou muito mais daqui do que de lá, moro lá mas a minha vida toda tem sido aqui, na FEC que eu trabalhei e depois virou UNIFEC, UNIABC, fiquei lá até 1996, de lá fui para a UNIBAN também aqui em São Bernardo [10'] fiquei ali até 2000 quando o IMES na época começou a pensar em abrir cursos na área da saúde e o primeiro deles foi o curso de educação física com o professor Aílton José Figueira Júnior que é um amigo também e ele chamou algumas pessoas da área para poder montar esse curso e eu estava entre esse grupo, a partir daí a gente começou a construir a história do IMES para a educação física hoje da USCS, então prestamos o concurso em 2001, fomos efetivados, e de lá para cá fui trabalhando como professor, o Aílton ficou por alguns anos, bastante tempo como gestor, depois o Professor Brito assumiu, depois o Professor Paulo assumiu, e em 2013 eu assumi a gestão de cursos.
Pergunta:
Eu vou chegar nessa história do IMES, mas eu gostaria que você detalhasse um pouquinho mais essa transição entre o aluno e o professor, como essa carreira docente teve início, quais foram as sensações e quais são as memórias que você tem desse começo.
Resposta:
Algo que a gente vinha conversando um tempo atrás, que a gente sai da faculdade dizendo assim: ‘E agora?', pois enquanto somos alunos a gente tem um álibi, eu sou aluno, a hora que você se forma fala e agora, não sou mais aluno e não sou um profissional que me sinta preparado para o mercado, então isso assusta um pouco, e o grupo de dança foi um espaço onde eu comecei a dar aula para um grupo que era respeitoso, de amigos, então isso me favoreceu um pouco o exercício e eu fui percebendo que era algo que me atraía dar aula, ensinar, fazer as pessoas acordarem, descobrirem coisas, que era muito gratificante isso para além da questão financeira que todo mundo precisa para pagar as contas e para sobreviver, mas eu tinha prazer em ver as pessoas aprendendo e na verdade comecei com alguns cargos administrativos também, na FEC do ABC, foi justamente por ter posições um pouco mais definidas sobre o que era pra educação e não simplesmente aprender a técnica em si, mas aprender, fazer com que as pessoas pensassem mais, aprendesse mais a ensinar, pensar, sentir e nesse caminho em 1986 eu fui fazer outra formação que me ajudou muito nessa compreensão que eu tenho hoje, que foi fazer Psicologia. Então eu fui fazer essa outra faculdade, e comecei a ver como as áreas são distantes, distintas, mas que se precisam e merecem tanto, a questão do corpo e da mente, e a partir daí eu fui fazendo trabalhos que ligavam essa visão mais holística do ser humano, entender o ser humano não como corpo, mente, alma, mas como um ser que é multifacetado e que você pode ter várias portas de acesso e a consciência corporal, a dança, atividade física, isso tudo foi um favorecedor para que eu fosse descobrindo que dar aula é legal, trabalhar com pessoas é legal, fazer as pessoas aprenderem é legal, e que não só transmitir conhecimento, isso é muito pouco e o professor que vem dessa época, para quem está a mais de 30 anos no mercado, era um ensino que você tinha simplesmente transmitir conhecimento, mas para mim era muito mais legal fazer as pessoas entenderem sobre elas, sobre a vida, corpo, ensino, através de experiências, vivências, discussão, coisas mais interessantes, e foi me construindo, aprendendo muito, inseguro, ‘e agora o que eu faço?' reações que a gente não tinha noção. Por isso eu até fui fazer psicologia, porque em algumas aulas de consciência corporal e relaxamento as pessoas traziam emoção, traziam sensações, sentimentos e você fala: ‘e agora, o que eu faço com isso?'. Então eu fui tentar buscar outras formas para poder entender o processo de maneira mais ampla, e aí foi indo da psicologia, sociologia, na metodologia, nas técnicas corporais, várias áreas que foram abrindo caminhos para mim nessa área profissional.
Pergunta:
Como você falou você acompanha o nascedouro dá área de saúde da USCS [15'], fala um pouco sobre a primeira vez que você ouviu falar no então IMES e como era aquela instituição que você chegou, como era o IMES em meados do ano 2000.
Resposta:
Na verdade já tinha ouvido falar, mas na área de Contábeis, de Administração, outras áreas que não da área da saúde, então quando o professor Airton vem pra cá, com essa nova proposta nós achamos bastante interessante, por pensar numa instituição pública, inicialmente achei que fosse um modelo tipo USP, UNESP, UNICAMP, que tivesse outra estruturação, mas sempre empolgante. A gente sempre teve uma qualidade que é ser sonhador, então assim uma nova ideia, um novo espaço, fomos muitos bem recebidos, tinha toda a intenção de fazer um curso legal, então as pessoas envolvidas da reitoria, da estrutura toda, administrativa, e foi um recebimento assim... ficamos um tempo aqui no campus Barcelona, depois fomos para a Estrada das Lágrimas e aí voltamos para cá, e fomos para o campus Centro, teve toda essa trajetória junto com o próprio crescimento da USCS, o curso foi crescendo e acompanhando as transformações e foi muito interessante porque São Caetano sempre foi polo de esportes, a cidade sempre teve times acho que até pela própria prefeitura incentivada o judô, ginástica, handebol, vôlei, natação e tinha outra área que também era bacana na época, que ainda tem hoje em dia, mas na época porque já é desde antes, desde os anos 1970 que é o CELAFISCS que é o Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul encabeçado pelo professor doutor Vitor Matsudo, então tinha a área de esportes, tinha a área da ciência, mas não tinha a área acadêmica que dessa conta de poder fazer um link entre essas coisas que estavam bastantes presentes aqui em São Caetano. Então o curso veio trazer visão, essa formação acadêmica onde você usa o esporte não como um fim, mas como um meio, o fim também, mas não exclusivamente. As pessoas não têm que saber jogar, elas têm que através do jogo se desenvolver, a profissão começa com educação física, então a ideia é essa, trazer para a ciência para fundamentar que essas práticas tragam um desenvolvimento em vários aspectos em vários âmbitos para os alunos e para as pessoas que praticam.
Pergunta:
Fala um pouco mais sobre o curso de Educação Física da USCS, fala um pouco sobre as transformações que ele sofreu e como ele se apresenta hoje.
Resposta:
Ele veio num crescente, ele sofreu transformações sim, nós tínhamos um eixo humano que era muito forte da área de humanas, de ciência politicas, sociologia, filosofia que era mais forte e presente com a própria transformação da área, nós sempre tivemos na nossa área certo estigma, educação física é coisa da prática é um ser que sabe praticar muitas coisas, mas que não pensa muito sobre isso, e a gente sempre trabalhou para se quebrar esse paradigma, esse estigma de que você é bom em práticas, mas você não pensa sobre aquilo que você faz então você tem que fazer aquilo que você pensou para quem, quando, como, por que, tem toda uma retaguarda pensada preparada para que o aluno se forme, e com a própria área da saúde surgindo, a saúde começou a vir mais a tona, antes você fazia esporte para fazer inclusão social, para fazer a própria prática, mas o termo saúde, a ideia saúde vem crescendo bastante no Brasil nas últimas décadas e aí a gente se viu naturalmente transitando um pouco mais também para equilibrar o curso na visão da saúde. Quando você pensa em saúde hoje é um termo até que bastante utópico você pensar que a Organização Mundial da Saúde define saúde como sendo a integração entre o bem-estar físico, mental e social, não tem prática profissional nenhuma que dê conta de tudo [20'], mas que isso fique enquanto meta para não voltarmos de uma forma reducionista em pensar saúde do ponto de vista biológico. Hoje em dia nós sabemos o quanto estresse deixa a pessoa doente, o quanto as emoções interferem diretamente na saúde de maneira geral, então por mais que o nosso caminho seja via atividade física é se compreender um ser humano de maneira multifacetada para pensar na saúde que é como esse ser vai ser visto do ponto de vista físico, mental e social, a qual a inserção dele, quais os processos emocionais, psicológicos, quais as questões físicas envolvidas. Então viemos caminhando de uma formação que era bem clara, tinham as partes práticas que eram mais técnicas, tinham as partes filosóficas e hoje em dia isso foi se mesclando e caminhando para uma formação que enxerga o ser humano de maneira mais holística, de maneira mais sistêmica. Então da mesma forma em que a saúde foi vindo, o curso foi permeando essa formação mais humanística para falar em saúde do ponto de vista mais amplo.
Pergunta:
Gostaria que você falasse um pouquinho então sobre o ser professor, sobre a profissão de professor, os desafios, como que você com a experiência que você tem hoje você olha o seu inicio de carreira, o que você acha que foi determinante no seu aprendizado e que também para complementar falasse um pouco sobre a função de gestor de curso que, é outro desafio que você assumiu também e como funciona o dia a dia de um gestor de curso da USCS, por exemplo.
Resposta:
Do professor, é que me gratifica muito! Uma das coisas interessantes, é que eu há 30 anos convivo com gente com de 20 anos e isso é muito legal. Nós acompanhamos transformações de cultura de movimento e isso nos mantém mais jovem, porque os jovens com vinte ou vinte e poucos e muitos, tem uma maneira de pensar que ainda é muito pouco aprisionada, muito pouco sofrida é muito liberta, então isso nós traz a lembrança que é possível manter isso ao longo da vida. E eu só digo que sou professor porque existe aluno, então o respeito com eles tem que ser o maior possível, porque eu existo, eu criei meus filhos, eu me fiz profissionalmente, eu me sustentei, eu consegui proporcionar coisas a minha família graças a minha profissão, que só existo enquanto professor, porque os alunos existem como tais. Então isso é muito gratificante, emocionante, você poder participar de um pedacinho da formação da vida das outras pessoas, sei que é um pedacinho que são muitos que estão ali contribuindo, mas é muito legal a gente ouvir alguns agradecimentos sinceros, alguns pais emocionados, do quanto uma fala, uma bronca, uma ação, ecoou e pode deixar uma sementinha ali, pra que as pessoas pensem um pouquinho diferente em uma época que é tão complicada, que só vemos as pessoas pensando de maneira ruim, querendo o mal dos outros e querendo bem pra si só, então participar um pouquinho na formação humanística das outras pessoas é um presente, é uma dádiva que a profissão de professor me deu, e eu sou muito grato por isso.
Pergunta:
E o gestor?
Resposta:
O gestor bate na gente, porque ele fica em uma posição que ele tem que lidar com aspectos pedagógicos do curso, tem que lidar com as próprias limitações administrativas financeiras da instituição, tem que lidar com as dificuldades de relacionamento com os alunos, com os professores, com a infraestrutura, mas eu sempre gostei, é um desafio, eu gosto de pessoas, eu gosto de ter desafios, gosto de equipe, então aonde eu chego eu gosto de sentir que quem está ali, que nós estamos juntos, a gente precisa ser amigo, mas nós estamos juntos no mesmo barco. Então compor a equipe é um trabalho de confiança de respeito de garimpo que você vai construindo pouco a pouco, e eu sempre tive cargos administrativos, eu fui o primeiro ombudsman de universidade particular nos anos 1980, só tinha um que era em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e esse tipo de cargo te dá uma noção de eu preciso olhar os dois lados, eu preciso entender que essa queixa é bacana, mas que tem uma justificativa por trás [25'], e como é que eu faço para tentar achar a melhor solução para isso, e isso eu acho que é o que a gente tem que trazer. O gestor tem que gerenciar as circunstâncias ali, nem sempre satisfaz a todos, é claro, mas eu gosto do que eu faço, vejo o curso crescendo, claro que poderíamos estar melhor sempre, mas também temos problemas financeiros, administrativos, de recursos humanos, é o próprio palunado que chega hoje, chega com muito menos preparo em todos os sentidos, então às vezes para você conseguir um trabalho, você tem que voltar às vezes dois ou três passos para começar um trabalho de base de educação, de postura, de ideias, de entendimento, para depois chegar naquilo que estava sendo proposto enquanto formação, mas é um desafio aceito em 2013 quando o professor Biffi me convidou, é muito grato por isso, o curso estava bastante, a área da saúde estava crescendo, mas com certa lentidão e a própria reitoria pediu: ‘olha a gente precisa andar para alavancar, temos que levantar a área da saúde e todos os outros cursos', e foi um trabalho coletivo conjunto que foi muito bacana e eu gosto, fico bastante satisfeito com isso.
Pergunta:
O que a USCS representa na sua vida?
Resposta:
Olha, eu estou na USCS desde 2000, hoje 2018 então 18 anos, praticamente um terço da minha própria vida, trabalhando a maior parte do tempo aqui, é um local onde eu fiz amigos, onde eu cresci profissionalmente, aonde eu fui enriquecido com a contribuição de colegas, é um local, exclusivamente falando do campus Centro, que é onde eu vivo mais hoje, é um local harmônico, é um local familiar, é um lugar que dá prazer em estar e que a gente ouve os próprios professores falando: ‘é gostoso trabalhar na USCS' é um lugar aonde eu vou: ‘estou indo para a USCS', é legal.
Pergunta:
Você ainda dança?
Resposta:
Só socialmente, agora só socialmente.
Pergunta:
Aproveitando o gancho, acho que isso acontece muito com o aluno, o aluno acha que o professor, é professor e só ali em sala de aula, estou correndo ali na Kennedy e alguém me encontra lá: ‘professor, o senhor está aqui!' ‘não, obviamente que eu estou aqui, eu também tenho meus hobbies', eles acham que você vive na sala de aula. Além dessa questão da dança, tem alguma faceta sua, que o aluno nunca vai imaginar que o professor Eduardo, sei lá, gosta de x, y ou z.
Resposta:
Olha, eu procuro sempre estar próximo dos meus filhos, e hoje eles já tem a mesma faixa etária que meus alunos estão. Eu lembro há pouco tempo atrás o meu filho me chamou para ir num bar, balada que ele estava promovendo, então eu fui, estava lá tranquilo numa faixa etária dos 20, e encontrei uns alunos aonde eu vou, porque onde eu passo eu encontro aluno, e de repente eu ouço assim: ‘olha o professor perdido na balada', ou seja, o professor fica vinculado à sala de aula, na vida social noturna, essas pessoas ficam assim, mas essa é outra coisa bacana, aonde você vai você encontra pessoas falando: ‘ah professor, ah professor' é muito legal isso.
Pergunta:
Se você tivesse que convidar alguém assim como o Airton fez com você lá atrás e falasse: ‘vem para essa instituição', tanto aluno quanto docente, como você definiria essa instituição hoje, na hora de apresentar a USCS para alguém que não a conhece como é a melhor forma de apresentar?
Resposta:
Olha, precisaria pensar um pouco nisso, tenho feito isso a cada concurso que tem, eu tenho feito isso no sentido de ter hoje o privilégio, a sorte de ter amigos trabalhando no curso, então nós fomos construindo amizades em outras instituições ao longo da vida, e trabalhando forte para que eles viessem compor conosco, então eu não sei se uma frase, mas é um lugar legal de estar, é um lugar bom de trabalhar. O ambiente é agradável, as pessoas estão para compor equipe. Eu posso falar pelo nosso curso especificamente, que é onde eu vivo mais proximamente, é um lugar de equipe, de estar bem, de você estar leve tem sempre alguém contando piada [30'], alguém rindo e ao mesmo tempo na mesma hora em que tem que falar sério fala, então é um local bacana de estar.
Pergunta:
Segundo a militância do seu pai, no começo da conversa, gostaria que você falasse um pouquinho como você vê o atual momento que passa os país, já que sua infância foi marcada pelo período militar, um pouquinho sobre quando hoje você ouve o pessoal pregando a volta dos militares e coisas assim, então qual é a sensação?
Resposta:
É ruim! É ruim no sentido porque o que nós precisamos ter são pessoas com uma formação moral e politica profunda e sólida para ter em gestão política. Então o fato de alguém ser militar ou não é isso que vai dizer se ele será um bom político ou não. E não é porque ele é militar que ele vai ser mau político ou por que ele é militar e vai ser bom político, ou seja, mas a experiência ditadura deixou claro que você dar poder para pessoas que você não sabe se tem preparo para lidar com ele, as consequências são desastrosas, todos os países que passaram por sistema de ditadura, seja ela qual for, têm sequelas inesquecíveis. Então nós estamos em um momento difícil, mas se nós pensarmos as grandes potenciais mundiais hoje todas elas passaram por um caos, tiveram que chegar num ponto do insustentável, para recomeçar, e talvez nós estejamos agora com essa descoberta de tanta coisa ruim e tanta gente ruim, fazendo o mal para pessoas que isso ainda vai ter que vir mais a tona, é uma questão moral, é uma questão educacional, o brasileiro quer levar jeitinho na padaria, no mercado, no estacionamento, é o mesmo pensamento em grande escala com os grandes empresários, construtoras, empreiteiras, políticos e outros. Então é uma questão moral, educacional, que deve ser pensada. Mas transformação, é hora de transformar, nós estamos com pouca oferta e ninguém me fala de candidatos que empolguem, "não esse vai ser legal" porque acho que está todo mundo um pouco mais escaldado, e os que estão aí não estão apresentando um histórico politico, uma formação que dê um alento que fale: "não, acho que ali tem a grande chance", mas temos que continuar o processo, tem que entender a historia que é fundamental, porque quem está ali tem história, e a história de cada um deles diz algo sobre como ele pensa, como ele age, como ele interviu, como ele vai fazer futuramente muito baseado no que ele fez. Não tem mais partido político, a ideologia politica morreu, o que tem hoje é conveniência politica, então partidos fazendo coligações com pessoas de esquerda, direita, de centro, o que é melhor para gente no momento, vamos fazer coligação. Então ideologicamente acabou o que você tem que pensar é em pessoas ali como ela pode, difícil, trazer novidades do ponto de vista dessa nova era que virá após a nossa nova eleição, eu espero que venha uma nova era, porque nós estamos indo para a violência, perigo, mortalidade, quer dizer, num país rico como é, beneficiado geograficamente e climaticamente como é, sendo um dos maiores PIBs, uma das maiores rendas do mundo, ou seja, é um país rico em todos os seus próprios recursos inclusive financeiros, e ainda ter miséria, ainda ter pobreza e ainda ter a corrupção que tem é muito ruim. Há muitos anos eu tinha um aluno, um senhor alemão empresário, e ele me falava uma coisa que eu vejo que vem se repetindo, ele dizia: ‘o Brasil precisa de uma coisa só, políticos que amem o Brasil' porque o Brasil tem tudo para ser potência e para que a população não passe o que está passando o desrespeito, a carência, as privações que passamos, graças a Deus eu muito menos, mas muita gente passa bastante por má vontade, por mau caráter, ações de mau caráter de várias pessoas que estão gerindo a política brasileira.
Pergunta:
Tantos anos em sala de aula, aqui na USCS desde 2000, tem alguma história, alguma lembrança que seja do dia a dia da sala de aula [35'], que seja ali na sala dos professores, enfim, que você ache legal destacar?
Resposta:
Ah, tem muitas histórias, espirituais, emocionais, sociais, tem vários manifestos, mas uma que me marcou bastante que me emocionou, é que nós não temos noção de quanto uma palavra, uma fala pode ter um impacto grande. Uma vez eu encontrei um aluno, e ele estava sentado, cabisbaixo, com uma cara de choro, eu sentei ao lado dele e tentei conversar, o que estava acontecendo, e ele ficou quieto, fazia com as mãos [gesto de negação] com que não e chorava, eu tentei conversar para saber o que estava acontecendo, ele fazia não com a cabeça e chorava, e eu sentei com ele: ‘então fico aqui com você até você ficar bem' e conversei um pouquinho e ele não falava chorava, e ele foi melhorando, melhorando e saiu de lá melhor, acabamos conversando um pouquinho sobre a vida, aquelas questões que os jovens têm de dúvidas, de família, de amores e tal, e então meu tio em Taubaté ouvindo a Rádio Bandeirantes ouviu um comentarista da rádio fazendo um agradecimento a mim, que o filho dele, em questão o aluno, estava passando uma época bastante difícil, e até pensando em fazer bobagem, e que surge um professor que não fala nada, mas que senta com ele, o ouve chorar e depois acolhe e bate lá um papinho com ele, e ele saiu dali diferente, não fez a bobagem que estava pensando em fazer, e que o pai dele era muito grato, porque o filho dele não tinha feito qualquer coisa e estava se reerguendo na profissão e estava seguindo a vida dele feliz. Então meu tio liga para a minha mãe e fala: "eu ouvi falar do Edu na Rádio Bandeirantes" então eu fui ligar as pessoas e ele era um aluno muito querido, e eu fico muito feliz, de não compreender no momento, mas agi de coração ali, ter participado da vida de alguém e isso é muito emocionante.
Pergunta:
Você falou também da sua mãe, de ser uma guerreira, de ser professora, da experiência de ter aula com ela, o que ali da professora, o que você se recorda da sua mãe que você se vê, colocando em prática também hoje em sala de aula.
Resposta:
Primeiro veio a avó professora, depois a mãe professora e eu lembro que na escola tinham algumas professora bravas e temidas, odiadas e outras que passavam e a minha mãe ela era querida, isso eu lembro que era uma coisa gostosa, porque eram muito ruim ouvir falar mal da sua mãe mesmo que como professora, ela muito querida, ela era boazinha, legal, bacana isso pelas próprias crianças da época, então isso eu levei para mim que é legal você ser querido, então isso foi um eixo para mim, como é que eu faço para também ser querido? Em primeiro lugar seja legal, no sentido de respeite as pessoas, não use o poder atribuído de maneira indevida, porque, claro, que sempre ali o poder está na mão do professor, mas o como ele usa isso faz toda a diferença, então eu parti disso, eu queria ser legal, então eu fui descobrindo como é que eu podia fazer, e acho que o respeito foi primeiro passo, de respeitar o aluno, de tratá-lo sempre de maneira respeitosa e depois de agradecer, eu só existo porque ele é aluno, e isso me fez seguir três décadas de docência numa relação pessoal que eu continuo querendo ser bacana, no sentido não demagógico, ‘ah ser mera homenageado' não, mas eu quero que a minha passagem ali seja gratificante, pra ele, quero que ele, que eu consiga contribuir nem que seja um pouquinho na formação da vida dele, isso é a minha grande meta docente, é ajudar as pessoas a olharem diferente, a verem as coisas diferentes.
Pergunta:
E qual aluno deveria escolher o curso da USCS de Educação Física?
Resposta:
Porque a gente se empenha muito em respeitar [40'] o aluno, são professores concursados, são professores especializados, estudiosos, titulados, e nós trabalhamos muito para que essa visão respeitosa do ser humano entendendo a saúde como um todo, na formação profissional, então muitas vezes o aluno ele vem buscar a prática, ele quer jogar bola, nadar, dançar, mas a ideia é que esta prática está sendo fundamentada para que o outro possa se desenvolver com ela, então não é simplesmente fazer por fazer, esse é um instrumento para que os seus alunos, clientes, pacientes possam se desenvolver em vários aspectos com eles profissionalmente no futuro, então a gente se preocupa muito com a formação profissional numa perspectiva, claro que técnica de habilidades e competências da área, mas também holística e humanística.
Pergunta:
Mais alguma coisa que você queria deixar registrado?
Resposta:
Só a gratidão de poder participar desse trabalho de comemoração dos 50 anos da USCS, que me acolheu há quase vinte anos e que me sinto parte da USCS, da família USCS e sou muito grato.
Lista de siglas presentes no depoimento:
FEC - Faculdade de Educação e Cultura do ABC
FEFISA - Faculdades Integradas de Santo André
USP - Universidade de São Paulo
UNIFEC - União para a Formação Educação e Cultura do ABC
UNIABC - Universidade do ABC
UNIBAN - Universidade Bandeirantes
IMES - Instituto Municipal de Ensino Superior
USCS - Universidade Municipal de São Caetano do Sul
UNESP - Universidade Estadual Paulista
UNICAMP - Universidade de Campinas
CELAFISCS - Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul
PIB - Produto Interno Bruto